Anatel insiste no risco a cabos submarinos; Cagece nega

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Conforme a Anatel, a construção de usina de dessalinização na Praia do Futuro pode pôr em risco os 17 cabos submarinos que transferem dados entre Brasil e outros países. Foto mostra época do lançamento dos cabos

A polêmica segue e projeta Fortaleza levando uma preocupação Brasil afora com qualquer possível interrupção da transmissão de dados pela internet. Afirmações opostas entre empresas de telecom e a Cagece, que nega risco e quer solução.

A praia do Futuro, em Fortaleza, concentra quase 100% do tráfego da internet do Brasil – é o segundo maior hub de sistemas ópticos submarinos do mundo. E a usina de dessalinização é apontada como possível indutor da queda de transmissão, caso venha a ser erguida naquela região.

Discussão

A Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) realizou nesta semana, em Fortaleza, o evento “Conexões Políticas: a Importância dos Cabos Submarinos”, com o objetivo de discutir o impacto da construção de uma usina de dessalinização na Praia do Futuro.

O evento, promovido com o apoio da Telcomp, contou com a presença do conselheiro Vicente Aquino, do ministro das Comunicações, Juscelino Filho, de parlamentares e de representantes de empresas de telecomunicações e responsáveis pelo projeto da usina.

O conselheiro Vicente Aquino explicou que o Decreto nº 9.573/2018, promulgou a Política Nacional de Segurança de Infraestruturas Críticas, que abrangem instalações, serviços, ativos e sistemas cuja interrupção ou dano, total ou parcial, resulta em sérios impactos nas esferas social, ambiental, econômica, política, internacional e na segurança do Estado e da sociedade. Segundo ele, o Decreto caracteriza a segurança das infraestruturas críticas como um conjunto de medidas, de caráter preventivo e reativo, destinado a preservar ou restabelecer a prestação dos serviços relacionados às infraestruturas críticas.

“Dentro dessa perspectiva, é crucial reconhecer que as infraestruturas de telecomunicações detêm uma importância estratégica, desempenhando um papel fundamental tanto na garantia da segurança nacional e soberania quanto na promoção da integração e desenvolvimento econômico sustentável do País”, afirmou o conselheiro.

Representante da Agência no Grupo Técnico de Segurança das Infraestruturas Críticas da Câmara de Relações Exteriores e Defesa Nacional da Presidência da República, Aquino afirmou, que o evento promovido pela Anatel buscou soluções dois importantes interesses nacionais: “água para os que dela precisam e internet para todos os brasileiros. Tenho certeza que, deste encontro, surgirão caminhos alternativos, sugestões para que superemos o conflito posto hoje aqui em discussão”.

Interconexão

Também presente ao evento, o ministro das Comunicações Juscelino Filho disse que os cabos ópticos submarinos são responsáveis por 99% do tráfego de dados internacional e pela conectividade global. Ele destacou também a importância do estado. “O Ceará, em especial a cidade de Fortaleza, é que garante a interconexão do Brasil com o resto do mundo. Aqui chegam 17 sistemas ópticos com uma capacidade agregada de centenas de terabits por segundo. A Praia do Futuro representa o segundo maior hub mundial de cabos ópticos. Agregado a esses sistemas, vem a implantação de Data Centers, o que gera trabalho e renda para o município”, afirmou o ministro.

Juscelino Filho ressaltou, ainda, a relevância econômica dos cabos submarinos. “O setor de telecomunicações corresponde a aproximadamente 4% do PIB brasileiro e todos os segmentos das telecomunicações influenciam o desenvolvimento econômico e social do País. Não há dúvidas acerca da relevância dos cabos submarinos para a comunicação e a economia do Brasil. Ações e políticas para o avanço e a segurança dessas infraestruturas contarão sempre com o apoio do Ministério das Comunicações”, declarou.

Cagece

Neuri Freitas, diretor-presidente da Companhia de Água e Esgoto do Ceará (Cagece),  explicou que a distância entre cabos e outras infraestruturas foi ampliada de 40 para 500 metros. “A nosso ver, isso está totalmente resolvido, não vamos trazer nenhum risco, buscamos a conciliação. A gente acha que não há esse risco já que no continente todos os cabos cruzam com alguma estrutura, como rede de gás, de energia e diversas outras estruturas. A própria Cagece precisa da rede de telecom, a gente precisa conviver para atender a população com água”, afirmou.

Freitas alertou sobre a importância da instalação da usina de dessalinização na Praia do Futuro, alternativa para a escassez hídrica e evitar racionamento. Segundo ele a Companhia está buscando alternativas para conviver pacificamente no local.

Silvano Porto, gerente de pesquisa, desenvolvimento e inovação tecnológica da Cagece, também defendeu a coexistência da usina de dessalinização com os data centers, a partir da alteração no projeto que ampliou a distância entre as estruturas. de acordo com ela, é comum a coexistência em diversos países como Estados Unidos, Bélgica, Alemanha, Finlândia e Singapura.

No segundo dia de evento um grupo de 26 participantes realizaram visita à Praia do Futuro, onde conheceram os locais de ancoragem dos cabos submarinhos. Existem no local 17 cabos submarinos de oito empresas.