Venda: Enel Ceará deve "mudar de mãos" após 23 anos

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A  primeira sinalização de interesse em ativos da Enel Ceará veio por parte da Companhia Paranaense de Energia (Copel)

Após 23 anos, desde que foi privatizada a antiga Coelce, a Enel Ceará, deverá mudar de mãos de novo, trazendo incertezas para os consumidores. A intenção foi anunciada ao mercado internacional pela italiana Enel, controladora da companhia.

Os reajustes elevados na energia elétrica e as queixas frequentes sobre qualidade nos serviços, sobretudo de consumidores empresariais, podem ser ampliados. Mudanças de comando sempre impactam na vida de usuários de serviços, seja a médio ou longo prazo.

Outra polêmica recente envolvendo a distribuidora de energia no Ceará diz respeito à questão do uso de postes de energia pelas empresas operadoras e provedores de internet, que elevaria em até 70% o custo dos serviços.

Plano

A italiana Enel já vendeu a distribuidora de eletricidade goiana Celg e agora decidiu sair também do mercado do Ceará, para concentrar suas operações em distribuição de energia em São Paulo e no Rio de Janeiro. No planeja vendas de ativos no valor total de US$ 21,5 bi

A ideia de vender a concessão do Ceará, diz a empresa, tem como objetivo “ampliar o foco nas redes de distribuição nas megacidades”. A expectativa da companhia é completar seu plano de venda de ativos até o fim de 2023.

Estratégia

A venda é parte do novo plano estratégico da companhia, que prevê maior concentração das atividades em nível mundial, com a saída de países como Romênia, Peru e Argentina. O plano prevê investimentos de 37 bilhões de euros (R$ 202 bilhões) entre 2023 e 2025, com foco em seis países: Itália, Espanha, Estados Unidos, Brasil, Chile e Colômbia. A ideia é focar em modelos de negócio integrados e digitalização.

“Isso vai melhorar nossa resiliência a potenciais turbulências futuras e ampliar nossa criação de valor, beneficiando todos os nossos stakeholders [públicos de interesse] e acelerando a independência energética dos nossos países-alvo”, disse o presidente da companhia, Francesco Starace. A estratégia da Enel prevê um reposicionamento geográfico de negócios, com um plano de venda de ativos de 21 bilhões de euros (R$ 115 bilhões).

Fato relevante 

Em Fato Relevante, assinado por Teobaldo José Cavalcante Leal, diretor de Administração, Finanças, Controle e de Relações com Investidores, a Enel Ceará comunica ao mercado que a Coelce (com ações ordinárias na B3 - COCE3 - e preferenciais - COCE6), "vem informar que, nesta data, seu acionista controlador indireto, a Enel SpA., anunciou à comunidade financeira internacional seu Plano Industrial (Plano Estratégico) para o período 2023-2025"

Acrescenta que "dentre as várias medidas planejadas, foi contemplada uma possibilidade de alienação do controle acionário da Companhia, detido por sua controladora direta Enel Brasil S.A., muito embora ainda não tenham sido iniciadas concretamente quaisquer medidas e procedimentos em tal sentido. A Companhia esclarece que a conveniência e oportunidade de alienação das ações de sua emissão é decisão que cabe exclusivamente aos seus acionistas"

Diz ainda que "a Companhia informa que, se e quando for o caso, qualquer operação dependerá da obtenção das aprovações necessárias e observará os termos da regulamentação aplicável. A Companhia manterá seus acionistas e o mercado em geral informados, na forma da lei e da regulamentação aplicável".

Celg

Em setembro, a Enel anunciou a venda da Celg por R$ 1,6 bilhão, além da transferência de R$ 5,7 bilhões em dívidas à Equatorial Energia. A Enel vinha lutando com problemas de qualidade no fornecimento e sofreu ameaças de perda da concessão pelo governo do Estado.

História

Em 1999, a Investluz S.A, empresa do grupo espanhol Endesa assumiu o controle da Coelce. A distribuidora cearense foi privatizada por R$ 987 milhões, com ágio de 27,2% sobre o preço mínimo, de R$ 775,96 milhões.

O consórcio Distriluz, formado por empresas do Chile, da Espanha e de Portugal, que controla a Cerj (Companhia de Eletricidade do Rio de Janeiro), venceu o leilão. Posteriormente, o controle passou às mãos da italiana Enel. 

Copel sinaliza interesse

A Companhia Paranaense de Energia (Copel) já despontou como potencial compradora dos ativos da Enel Ceará. Ao Estadão/Broadcast, sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado, o diretor-presidente da companhia paranaense, Daniel Slaviero, disse que a empresa “pretende olhar, sim” o ativo, e que um dos objetivos no plano estratégico apresentado ontem a analistas e investidores é tentar a aquisição de uma distribuidora fora da área geográfica do Paraná.

A Copel já atua no Nordeste, mas em geração. Começou a operar recentemente o complexo eólico Jandaíra, no Rio Grande do Norte. Embora no primeiro momento não exista uma sinergia direta entre os ativos de geração no Nordeste e a potencial aquisição em distribuição, a empresa considera que no futuro pode criar um hub para mais investimentos em parques eólicos. “(Pode-se) criar um outro grande cluster lá para expandir eólico e solar”, disse.

"Se surgirem oportunidades nesse segmento, vamos olhar mais ativamente”, disse o executivo durante o Copel Day 2022, em São Paulo. Mais cedo, ele havia dito a investidores que pretende crescer nesse segmento, mas não havia citado nenhum ativo especificamente.